quinta-feira, 22 de julho de 2010

A Eterna Valsa

Recentemento tenho-me deparado com bastantes blogues, livros, notícias, filmes ou até mesmo artigos, cada um expondo a sua perspectiva (de uma maneira no mínimo bastante diversa) relativamente ao derradeiro obstáculo de todos os seres vivos...o único acontecimento do qual nenhum ser, grande ou pequeno, forte ou fraco, magnificientíssimo e magnánime ou minúsculo e insignificante está ileso: o fim da vida em si...a morte...

Como referi, existem vários pontos de vista relativamente a este "terminus" do nosso período como seres com actividade vital, alguns defendendo o fenómeno como sendo o derradeiro castigo infligido sobre nós, e outros como sendo as asas que nos permitem erguer das prolíferas trevas e de uma obsoleta existência na prisão que é o nosso corpo...

Temos a perspectiva instituída em muitos de nós, desde a nossa ténue infância, pela doutrina cristã, de que "os puros e justos que amem o próximo" terão a derradeira oportunidade de avançar para o "Paraíso" e reunir-se com Deus, Jeová, O Criador...aquele que rege tudo o que somos capazes de ver, sentir ou até mesmo imaginar...e que todos os dedicados a uma vida de vício e maldade devam ser condenados a sofrer no "Inferno", para sempre atormentados pela encarnação do mal, Satanás/Lúcifer.

Os defensores de teorias solipsistas, por exemplo, apresentam uma curiosa ideia relativamente não só à morte, como também à existência em si: nada do que nos rodeia existe... as mais belas paisagens com que deliciamos os nossos olhos, os mais doces perfumes com os quais galardoamos o nosso nariz, a mais perfeita VIDA que pode ser conferida a qualquer um, e a MORTE que por esta é implicada...não existem...são meros pensamentos, reflexões do próprio ser, pois apenas ele é certo, apenas ele conhece, apenas ele vê, apenas ele vive e morre...o resto é regido de acordo com a sua vontade, desde o mais inocente bater de asas até à mais colossal explosão nuclear...o seguinte excerto conto inacabado "The Misteryous Stranger" de Mark Twain descreve este pensamento em total exactidão

"In a little while you will be alone in shoreless space, to wander its limitless solitudes without friend or comrade forever--for you will remain a thought, the only existent thought, and by your nature inextinguishable, indestructible. But I, your poor servant, have revealed you to yourself and set you free. Dream other dreams, and better!

Strange! that you should not have suspected years ago - centuries, ages, eons, ago! - for you have existed, companionless, through all the eternities.

Strange, indeed, that you should not have suspected that your universe and its contents were only dreams, visions, fiction! Strange, because they are so frankly and hysterically insane - like all dreams: a God who could make good children as easily as bad, yet preferred to make bad ones; who could have made every one of them happy, yet never made a single happy one; who made them prize their bitter life, yet stingily cut it short; who gave his angels eternal happiness unearned, yet required his other children to earn it; who gave his angels painless lives, yet cursed his other children with biting miseries and maladies of mind and body; who mouths justice and invented hell - mouths mercy and invented hell - mouths Golden Rules, and forgiveness multiplied by seventy times seven, and invented hell; who mouths morals to other people and has none himself; who frowns upon crimes, yet commits them all; who created man without invitation, then tries to shuffle the responsibility for man's acts upon man, instead of honorably placing it where it belongs, upon himself; and finally, with altogether divine obtuseness, invites this poor, abused slave to worship him! . . .

You perceive, now, that these things are all impossible except in a dream. You perceive that they are pure and puerile insanities, the silly creations of an imagination that is not conscious of its freaks - in a word, that they are a dream, and you the maker of it. The dream-marks are all present; you should have recognized them earlier.

It is true, that which I have revealed to you; there is no God, no universe, no human race, no earthly life, no heaven, no hell. It is all a dream - a grotesque and foolish dream. Nothing exists but you. And you are but a thought - a vagrant thought, a useless thought, a homeless thought, wandering forlorn among the empty eternities!"

Outros pensadores recorrem à corrente do Niilismo, a teoria segundo a qual, qualquer coisa na nossa existência se encontra completamente desprovida do seu valor e sentido...através desta corrente somos capazes de abolir os diversos "valores padrão/clássicos" instituídos pela dogmática ideologia cristã, promovendo outros valores originais e puros, como a justiça, igualdade e irmandade...
Esta corrente, por sua vez, retira também o sentido à morte, considerando-a algo absurdo,que apenas acontece porque tem que acontecer e não há qualquer maneira de provar o seu possível valor ou sentido...

Há ainda perspectivas mais "romanceadas" por parte de vários pensadores, como por exemplo a teoria de que "se uma pessoa for boa e justa, terá a chance de regressar à época em que foi mais feliz...e permanecer lá".

Existe ainda uma teoria muito curiosa que me foi apresentada já há meses pelo "Tenente Fatia", e que espero descrever com exactidão : a existência resume-se a uma série de níveis...a morte não é o fim...é apenas uma passagem a um nível superior...e continuaremos assim, adquirindo cada vez mais por cada "vida" até atingirmos uma iluminação total...

Analisando estas teorias, cada uma bastante convincente no seu direito, creio que é meu dever opinar relativamente a este assunto...

Todos nascemos, todos morremos. É esta a lei básica que gere a nossa existência.

Não considero, no entanto, a morte como sendo um fim torturoso nem benevolente.
Cada um tem direito a uma vida longa e próspera, devendo usufruir desta ao máximo, no entanto, no estado em que o mundo se encontra actualmente, tal situação não se verifica em casos extremos, como as crianças que morrem à fome em África, os orfãos de guerra, as vítimas do haiti...e até mesmo na sociedade "desenvolvida" com as vítimas de violência tanto física como psicológica, colocadas de parte e deixadas no extremo entre a loucura e a sanidade...ou até mesmo aqueles que coexistem em famílias desfeitas, em constante batalha em tribunais ou no próprio lar...aí não parece tão desejável viver...

Eu, tal como muitos pensadores, acredito na reencarnação...acredito que a alma viaja de corpo em corpo, e que, tal como dito pelo "Tentente Fatia", avança até nos tornarmos almas/seres iluminados...no entanto, temo a morte...sim...apesar de acreditar que mais uma vez acoraderei numa escada interminável, temo fechar os olhos permanentemente nesta vida, temo esquecer todas as alegrias que me encheram, enchem e encherão a vida...temo acordar num mundo adverso, desfeito, no qual não sobreviva...mas por outro lado ainda, tenho a certeza de que eu, se tiver uma longa vida (e tal como uma boa parte dos que a têm), acabarei por desejar a morte...pois apesar de sobreviver às chagas ser uma dádiva maravilhosa...o preço por tal alegria é terrível...ter de presenciar a morte de todos os que amamos, ao longo dos anos, e de termos que ficar a assistir, como meros espectadores, até finalmente a nossa própria vida ser reclamada...

"Não vou viver para sempre...mas tenho 108 anos...e já vi coisas maravilhosas...a passagem de dois séculos por exemplo...mas também tive que presenciar a morte da minha esposa...do meu filho...dos meus amigos...como se fosse um castigo...por isso sei que terei desejado a morte muito antes desta me encontrar...aliás...já a desejo...todos morremos...não há excepções...mas céus...por vezes a última milha...parece tão longa" - citação do filme "À espera de um milagre" de Frank Derabont

terça-feira, 6 de julho de 2010

Fragmentos

Recentemente, foi-me dada a possibilidade de visualizar o filme "Sacanas sem Lei" de Quentin Tarantino, o conto de um grupo de soldados americanos dedicados a exterminar a ameaça Nazi que assolou toda a França durante a Segunda Guerra Mundial, tendo sido galardoado com diversos prémios entre os quais se destaca Óscar da Academia para melhor actor secundário (atribuído a Cristoph Waltz).
Ao ver este filme, vários sentimentos e memórias foram suscitadas em mim, nomeadamente o horror da WW2, causado pelo racismo e xenofobia de Adolf Hitler, dando-me vontade de reflectir relativamente ao quanto é que a nossa sociedade evoluiu deste então.
Ora, já mais de 60 anos se passaram desde o final do conflito que para sempre marcará a cultura mundial (e especialmente a judaica), mas curiosamente, muitos dos defeitos que estavam patentes no "modus operandi" dos oficiais Nazis que iniciaram a infame batalha ainda se encontram visíveis na nossa sociedade.
Mais curioso ainda é de observar que essas falhas do comportamento humano remontam aos primórdios da civilização moderna, como é possível referir já milhares de anos antes de Cristo com a escravatura do povo hebreu por parte dos egípcios (comprovado a nível científico e de conhecimento geral por meio da Bíblia Sagrada) e até com o conflito desencadeado entre estes e o poderoso Império Romano, uma vez que para além do constante desejo do ser humano de "possuir mais, independentemente do sofrimento desencadeado no próximo" que sempre motivou civilizações a marchar contra os seus "irmãos" pelos mais insignificantes motivos, a etnia, crenças e religiões do povo oponente servia como factor primordial da discórdia.
"Ora, os egípcios acreditam em Rá e eu acredito em Júpiter. Estes vão contra a palavra das minhas divindades, logo têm que ser erradicados" - diria um romano e, na situação oposta, um egípcio.
Solução? Esmagar o "infiel" até apenas sobrar a crença "correcta".
Outro exemplo quiçá mais familiar aos leitores será a "Jihad" por parte do povo muçulmano, que já remete de há várias centenas de anos, como é possível contestar pela guerra travada durante os primeiros séculos do primeiro milénio entre o povo Ibero e o Muçulmano, uma vez que estes acreditavam que todos os que seguissem outro deus que não Alá e ouvissem profeta que não Maomé deveria ser erradicados.
Esta guerra santa ainda é visível actualmente com os diversos ataques terroristas que assolam o mundo, nomeadamente o trágico massacre do 11 de Setembro de 2001.
Passaram 60 anos desde a 2ª Grande Guerra, quase um milénio desde a Reconquista Cristã e vários milhares de anos desde as batalhas entre a civilização Egípcia e Romana, e é curioso (e triste) de observar que os motivos que incitam as guerras actuais são os mesmos: racismo, xenofobia e inflexibilidade política.
Já Saramago dizia: "O crime mais imperdoável de todos é usar a desculpa de matar em nome de Deus"

Todos temos etnias e crenças diferentes, cada um vê o mundo de acordo com o que os seus olhos lhe ditam, uns irão pela paz, outros pela guerra, uns cantarão na multidão, outros escreverão no silêncio. Todos diferentes, todos iguais.
Acreditemos no que acreditemos, façamos o que façamos, somos todos seres humanos, partilhamos o mesmo ADN, temos todos sentimentos.
O ser humano tem que abrir os olhos, batalhar por aquilo em que acredita, unir os fragmentos de uma civilização há muito dispersa: uma civilização justa, em união, onde todos contribuem para um objectivo comum.
O destino está nas nossas mãos...mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...
Sim, o mundo está muito longe da estabilidade...mas a noite atinge a escuridão máxima antes do amanhecer...mas este acaba sempre por chegar...

A esperança é a última a morrer...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Chapada na tromba...literalmente

“A esperança para um futuro melhor e civilizado está cada vez mais obsoleta.”

A cada dia que passa, mais isto se verifica no nosso dia-a-dia, não só a nível de notícias relativas a outros cantos do mundo, como também ao que se passa mesmo ao nosso lado.

De que é que eu estou a falar? Ora, de nada mais, nada menos que da famosa “fist fight” de hoje de manhã entre duas raparigas.

Segundo fontes, a agressora inicial terá sido convidada pela outra interveniente na briga para “conversarem” relativamente a um tema que claramente andava a gerar tensão entre ambas (a julgar pelo relato das expressões de cada uma antes do sucedido).

Eu disse “conversarem”? Perdão, quis antes dizer “esmifrarem-se”. Sim, porque ao invés de ter uma normal conversação como seres humanos no mínimo RACIONAIS, não. Quais modos, quais quê? É muito melhor agarrar a outra pelos cabelos e começar aos berros, feita leoa raivosa após uma caçada mal sucedida.

De imediato, as companheiras da agredida (como qualquer ser que vive em sociedade e que seja decente) confrontaram a agressora e defenderam a sua colega.

Ora, não pode haver troca de chapadas e punhos sem uma multidão eufórica em volta. Em menos de dez segundos, já uma multidão de alunos “esfomeados” por assistir a uma boa sessão de pancadaria (uma vez que já vai mais de um mês desde o controverso jogo “ Sporting de Braga vs Vitória de Guimarães”) tinha rodeado as indivíduas em conflito, aplaudindo loucamente e em alegria, como crianças numa loja de doces.

Para desgosto de muitos, não foi possível assistir à desejada “sequela” do sucedido, graças à intervenção de um docente que conseguiu afastar as “feras”.

É triste observar que, para além da imaturidade demonstrada pela agressora inicial ao não ter o civismo para sequer abrir a boca e tentar dizer palavras com mais de duas sílabas, os restantes alunos mais uma vez demonstraram a triste realidade que é a vivência do ser humano que delicia da dor dos outros.

Queria ver se haveria sequer um décimo da adesão do público se em vez de uma troca de punhos houvesse um debate relativo a temas humanitários.

Meus amigos, abram bem os olhos. De nada adianta criticar um governo que “fala, fala, fala, fala e não se vê a fazer nada” se lá no fundo nós somos um povo cuja atitude condiz perfeitamente com ele.

Querem livrar-se do Sócrates? Dizem que o Sócrates é corrupto? Olhem primeiro para vocês e mudem os vossos princípios, só aí terão moral para o tentar por na rua.

Bem vindos

Vou ser breve
Sou um jovem com bastante tempo livre, e esse tempo livre permitiu-me ver MUITA coisa que para mim está mal no mundo que nos rodeia.
Sem mais demoras e para não vos maçar logo na introdução com definições longas, apenas informo que neste blog apenas irão encontrar textos críticos muito ou nada subtis.
Espero que apreciem, e quem não gostar, por favor que o diga, mas com decência.

Fiquem bem,
A administração